Fator integrante

Em matemática, sobretudo na teoria das equações diferenciais, fator integrante é uma função usada para facilitar uma integração e resolver a equação ou encontrar alguma lei de conservação.

Solução de uma equação diferencial linear de primeira ordem

Considere uma equação diferencial ordinária linear da seguinte forma:

y + a ( x ) y = b ( x ) {\displaystyle y'+a(x)y=b(x)\,}

onde y = y ( x ) {\displaystyle y=y(x)} é a incógnita e depende da variável x {\displaystyle x} , e a ( x ) {\displaystyle a(x)} e b ( x ) {\displaystyle b(x)} são funções dadas.

Ao multiplicarmos ambos os lados da equação diferencial por μ ( x ) {\displaystyle \mu (x)} , obtém-se:

μ ( x ) y + μ ( x ) a ( x ) y = μ ( x ) b ( x ) {\displaystyle \mu (x)y'+\mu (x)a(x)y=\mu (x)b(x)\,}

Supomos que μ ( x ) {\displaystyle \mu (x)} possa ser escrita na seguinte forma:

( μ ( x ) y ) = μ ( x ) b ( x ) {\displaystyle (\mu (x)y)'=\mu (x)b(x)\,}

Usando o teorema fundamental do cálculo, temos:

y ( x ) μ ( x ) = b ( x ) μ ( x ) d x + C {\displaystyle y(x)\mu (x)=\int b(x)\mu (x)\,dx+C\,}

onde C {\displaystyle C} é constante. Resolvendo para y ( x ) , {\displaystyle y(x),} , temos:

y ( x ) = b ( x ) μ ( x ) d x + C μ ( x ) {\displaystyle y(x)={\frac {\int b(x)\mu (x)\,dx+C}{\mu (x)}}\,}

Para encontrar a função μ ( x ) {\displaystyle \mu (x)} , basta observar que, pela regra do produto:

( μ ( x ) y ) = μ ( x ) y + μ ( x ) y = μ ( x ) b ( x ) {\displaystyle (\mu (x)y)'=\mu '(x)y+\mu (x)y'=\mu (x)b(x)\,}

Substituindo esta última expressão na equação diferencial original e simplificando, temos:

μ ( x ) = a ( x ) μ ( x ) . ( 4 ) {\displaystyle \mu '(x)=a(x)\mu (x).\quad \quad \quad (4)\,}

O que implica:

μ ( x ) = e a ( x ) d x , {\displaystyle \mu (x)=e^{\int a(x)\,dx},} que é chamado de fator integrante ou fator de integração, pois é um fator de uma multiplicação obtido através de uma integração.

Exemplo

Considere a seguinte equação diferencial:

y 2 y x = 0. {\displaystyle y'-{\frac {2y}{x}}=0.}

Multiplicando a equação pelo fator integrante M ( x ) = x 2 {\displaystyle M(x)=x^{-2}\,} , temos:

y x 2 2 y x 3 = 0 {\displaystyle {\frac {y'}{x^{2}}}-{\frac {2y}{x^{3}}}=0}

ou, reagrupando os termos:

( y x 2 ) = 0 {\displaystyle \left({\frac {y}{x^{2}}}\right)'=0}

o que é equivalente a:

y x 2 = C {\displaystyle {\frac {y}{x^{2}}}=C}

ou, resolvendo para y:

y = C x 2 {\displaystyle y=Cx^{2}\,}

 Transformação de uma EDO em Equação Exata

Ver artigo principal: Equação diferencial exata

Considere uma equação diferencial da forma

M ( x , y ) + N ( x , y ) y = 0 {\displaystyle M(x,y)+N(x,y)y'=0}

Um fator integrante pode ser utilizado para transformá-la em uma Equação Diferencial Exata e assim resolvê-la.

Para isso, tomaremos um fator integrante μ ( x , y ) {\displaystyle \mu (x,y)} e multiplicaremos toda a equação que queremos resolver por esse fator integrante, obtendo assim:

μ ( x , y ) M ( x , y ) + μ ( x , y ) N ( x , y ) y = 0 {\displaystyle \mu (x,y)M(x,y)+\mu (x,y)N(x,y)y'=0}

Para que essa equação seja exata, precisamos que

( μ M ) y = ( μ N ) x {\displaystyle {\frac {\partial (\mu {M})}{\partial {y}}}={\frac {\partial (\mu {N})}{\partial {x}}}} [1]

Ou seja, como M {\displaystyle M} e N {\displaystyle N} são funções dadas pela equação que se deseja resolver, precisamos encontrar uma função μ {\displaystyle \mu } que satisfaça a igualdade acima.

Para isso expandiremos ambos os lados da igualdade utilizando a derivação do produto.

μ M y + M μ y = μ N x + N μ x μ M y + M μ y μ N x N μ x = 0 {\displaystyle \mu {\frac {\partial {M}}{\partial {y}}}+M{\frac {\partial {\mu }}{\partial {y}}}=\mu {\frac {\partial {N}}{\partial {x}}}+N{\frac {\partial {\mu }}{\partial {x}}}\qquad \Longleftrightarrow \qquad \mu {\frac {\partial {M}}{\partial {y}}}+M{\frac {\partial {\mu }}{\partial {y}}}-\mu {\frac {\partial {N}}{\partial {x}}}-N{\frac {\partial {\mu }}{\partial {x}}}=0}

Por fim isso pode ser escrito como uma equação diferencial parcial:

M μ y N μ x + μ ( M y N x ) = 0 ( I ) {\displaystyle M{\frac {\partial {\mu }}{\partial {y}}}-N{\frac {\partial {\mu }}{\partial {x}}}+\mu \left({\frac {\partial {M}}{\partial {y}}}-{\frac {\partial {N}}{\partial {x}}}\right)=0\qquad \qquad (I)}

Porém a resolução dessa equação diferencial para obtenção do fator integrante é, muitas vezes, mais exaustiva do que a equação original. Então um artifício útil de ser feito é supor o fator integrante como uma função de apenas uma das variáveis, ou seja, supor um fator integrante sob a forma μ ( x ) {\displaystyle \mu (x)} ou μ ( y ) {\displaystyle \mu (y)} , sendo que essa escolha deve ser feita conforme a equação a ser resolvida.

Também, para simplificar a notação, utilizaremos M y = M y {\displaystyle {\frac {\partial {M}}{\partial {y}}}=M_{y}} e N x = N x {\displaystyle {\frac {\partial {N}}{\partial {x}}}=N_{x}} .

Assim, tomando μ {\displaystyle \mu } como uma função exclusivamente de x {\displaystyle x} , teremos:

μ  é uma função de x μ y = 0 N d μ d x = μ ( M y N x ) d μ d x = μ M y N x N {\displaystyle \mu {\text{ é uma função de x}}\qquad \Rightarrow \qquad {\frac {\partial \mu }{\partial {y}}}=0\qquad \Rightarrow ^{\qquad }{N{\frac {d\mu }{dx}}}=\mu (M_{y}-N_{x})\qquad \Rightarrow \qquad {\frac {d\mu }{dx}}=\mu {\frac {M_{y}-N_{x}}{N}}}

Ou seja, para obter uma a função μ ( x ) {\displaystyle \mu (x)} precisamos resolver a equação diferencial

d μ d x = M y N x N μ {\displaystyle {\frac {d\mu }{dx}}={\frac {M_{y}-N_{x}}{N}}\mu }

Observe que dessa expressão obtemos que, para que μ {\displaystyle \mu } seja uma função de x {\displaystyle x} é necessário que M y N x M {\displaystyle {\frac {M_{y}-N_{x}}{M}}} seja também uma função de x {\displaystyle x} .

Se isso ocorrer essa equação é uma equação diferencial separável e pode ser resolvida integrando, obtendo assim:

μ = e M y N x M d x {\displaystyle \mu =e^{\int {\frac {M_{y}-N_{x}}{M}}dx}} .

Analogamente poderíamos obter uma expressão para um fator integrante dependendo apenas de y {\displaystyle y} .

Então, se multiplicarmos por um fator integrante dessa forma, tornaremos uma equação diferencial ordinária não exata em uma equação diferencial exata, restando assim apenas resolver a equação conforme o método de resolução de equações exatas. 

Ver também

Referências

  1. Boyce, William (2013). Equações Diferenciais Elementares e Problemas de Valores de Contorno. Rio de Janeiro: LTC 
  • v
  • d
  • e
Sistema de equações diferenciais
Equações diferenciais
parciais
Métodos analíticos
Métodos numéricos
Pessoas
Outros