VLS-1 V01

VLS-1 V01
VLS-1 V01
VLS-1 pouco após o lançamento.
Descrição
Nomes alternativos Operação Brasil
Tipo Lançamento experimental
Operador(es)
Duração da missão 65 segundos
Propriedades
Plataforma VLS-1
Fabricante IAE/DCTA
Massa de lançamento 50 000 quilogramas (50,0 t)
Produção
Sucessor VLS-1 V02
Missão
Contratante(s) INPE
Data de lançamento 2 de novembro de 1997; há 26 anos
Veículo de lançamento VLS-1
Local de lançamento Centro de Lançamento de Alcântara
Fim da missão 2 de novembro de 1997
Notas
Destruído 65 segundos após o lançamento.
Portal Astronomia

VLS-1 V01 foi o primeiro lançamento do foguete VLS-1 realizado no dia 2 de novembro de 1997 no Centro de Lançamento de Alcântara visando colocar em órbita o satélite SCD-2A. O lançamento foi mal sucedido após o foguete ser remotamente destruído devido a ter se desviado de sua trajetória.

Antecedentes e objetivos

O foguete VLS-1 foi originalmente proposto em 1979[1] como parte da Missão Espacial Completa Brasileira[2] e tendo o seu primeiro lançamento originalmente planejado para 1989,[3] depois 1990,[4] 1994,[5] 1995,[6] e por fim em 1997 teve o seu primeiro protótipo pronto dentro da “Operação Brasil”, visando colocar em órbita o satélite SCD-2A, desenvolvido pelo INPE, e o de testar o veículo em situação de voo.[7][nota 1] O primeiro protótipo do VLS era 80% composto por tecnologias nacionais.[3]

O satélite seria colocado em uma órbita a 750 quilômetros de altitude[9] e no dia 20 de fevereiro o teste da separação da coifa já tinha sido realizado com sucesso.[10] No dia 1 de julho os equipamentos foram enviados para a base de Alcântara[11] e tanto o foguete e o satélite já estavam prontos em agosto de 1997.[12] O lançamento teve o custo de R$ 16 milhões[13] e visava mostrar a possíveis clientes a confiabilidade do foguete brasileiro, que por US$ 6,5 milhões, saía mais barato que o foguete estadunidense Pegasus, por US$ 15 milhões.[14]

A Aeronáutica Brasileira barrou a presença da Imprensa e autoridades civis no lançamento, alegando “questões de segurança e falta de infraestrutura” para o recebimento da imprensa e convidados na base.[15][16] Com isso, o presidente Fernando Henrique Cardoso teve sua visita na base adiantada para o dia 21 de outubro.[17] Inicialmente o lançamento ocorreria no começo de setembro; porém, atrasos no centro e o fato do foguete ter sido atingido por um raio adiaram os preparativos. A AEB trabalhou com a Embratel e a Telebrás para transmitir o lançamento no país inteiro.[18]

O lançamento deveria ter ocorrido no dia 26 de outubro de 1997, mas foi adiado na madrugada do mesmo dia devido a uma pane no radar doopler, feito pela empresa Thomson, que rastrearia o lançamento e identificaria a órbita do satélite.[14][19] Se a próxima tentativa não ocorresse até o fim da janela prevista (10 de novembro), o foguete teria de ser posto na posição horizontal devido à instabilidade de seu combustível.[20]

Lançamento

No dia 2 de novembro, durante a contagem regressiva, o cronômetro teve de ser pausado por cerca de 15 minutos devido a um avião ter atravessado o espaço aéreo interditado.[21][14]

As 10h25m (UTC-2) o foguete foi acionado[nota 2] com uma massa de 50 toneladas momento do lançamento. Em cerca de um minuto os técnicos notaram a existência de um problema no propulsor D, que levou o foguete a subir em uma inclinação. Apesar do veículo ter corrigido a inclinação, cerca de sete toneladas de peso morto desequilibraram a subida, o que levou, 65 segundos após o lançamento, a destruição remota de um satélite avaliado em US$ 5 milhões e um foguete de US$ 6,5 milhões.[21][14][22] Foi posteriormente revelado que dos quatro propulsores, um não foi acionado, causando a saída da trajetória.[23] O foguete foi destruído a 3,230 metros de altura e seus destroços caíram na zona marítima interditada a cerca de dois quilômetros da plataforma.[14] No momento da destruição, o foguete estava a 700 km/h.[24][nota 3]

Foi realizada uma pausa de 15 minutos na cadeia de imagens operada pela Radiobrás e transmitidas para auditórios com convidados em Brasília, São Luís e São José dos Campos. No retorno da transmissão, o coronel Thiago da Silva anunciou o fracasso.[21][18]

Consequências

Luiz Gylvan Meira Filho, então presidente da Agência Espacial Brasileira, notou que o fato do foguete ter procurado corrigir sua trajetória foi um sucesso de engenharia.[21] A investigação apontou que o mau funcionamento do “dispositivo mecânico de segurança”, que dificultou a transmissão da ordem pirotécnica, como responsável pelo acidente.[25][26] Fabio Wagner Costa, do Centro Universitário de Brasília, relata que o teste foi considerado positivo, por ter permitido "a validação de componentes importantes, incluindo o sistema de controle".[27]

Um professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, falando de forma anônima para a mídia, disse que o acidente poderia ter sido evitado se o conjunto de propulsores tivesse sido testado com o sistema completo e de forma integrada, mas os testes do CTA só abordaram de forma separada. O “teste integrado” com os quatro propulsores somente ocorreu com o lançamento, ao contrário do que o ITA havia orientado.[23] Os militares foram alertados sobre o risco de acidente meses antes do lançamento.[28] Não foram realizados todos os testes no mecanismo de segurança responsável pelo acidente devido à pressão para realizarem o lançamento no prazo esperado.[26]

O lançamento seguinte ocorreu em 1999, terminando com a destruição remota do veículo e o satélite SACI-2 cerca três minutos após a decolagem.[29]

Plano de voo original

Cronograma planejado para a missão[30]
Tempo Evento Resultado
00:00 Lançamento do VLS-1 Propulsor D não aciona, o que afeta a orientação do VLS.
00:55 Ignição do 2º estágio
00:65
Destruição remota do foguete
01:09 Ignição do 3º estágio
02:11 Separação da coifa
03:00 Fim da queima do 3º estágio
03:08 Separação do 3º estágio
~07:00 Ignição do 4º estágio
09:00 Injeção do satélite em órbita

Ver também

Referências

  1. Berquó et al. 2004, p. 7.
  2. Tribuna da Imprensa, 6 de novembro de 1997, p. 4.
  3. a b c Jornal do Commercio, 21-22 de dezembro de 1997, p. 21.
  4. Manchete, 8 de dezembro de 1984, p. 119.
  5. Diário do Pará, 27 de maio de 1990, p. 5.
  6. O Fluminense, 16 de junho de 1993, p. 7.
  7. Berquó et al. 2004, p. 11.
  8. Folha de S. Paulo, 11 de novembro de 1999.
  9. Pioneiro, 30-31 de agosto de 1997, p. 19.
  10. Folha de S. Paulo, 21 de fevereiro de 1997.
  11. Jornal do Commercio, 2 de julho de 1997, p. 10.
  12. Manchete, 16 de agosto de 1997, p. 49.
  13. a b Jornal do Brasil, 22 de outubro de 1997, p. 6.
  14. a b c d e Jornal do Brasil, 3 de novembro de 1997, p. 4.
  15. A Tribuna, 22 de outubro de 1997, p. 4.
  16. Jornal do Commercio, 22 de outubro de 1997, p. 12, Um super esquema de segurança.
  17. Jornal do Commercio, 22 de outubro de 1997, p. 12.
  18. a b Jornal do Commercio, 17 de outubro de 1997, p. 10.
  19. A Tribuna, 27 de outubro de 1997, p. 10.
  20. Jornal do Commercio, 2-3 de novembro de 1997, p. 14.
  21. a b c d Folha de São Paulo, 3 de novembro de 1997.
  22. Palmerio 2017, p. 136.
  23. a b O Pioneiro, 6 de novembro de 1997, p. 14.
  24. Palmerio 2017, p. 138.
  25. Berquó et al. 2004, p. 12.
  26. a b Palmerio 2017, p. 137.
  27. Costa 2004, p. 11.
  28. Jornal do Commercio, 10 de novembro de 1997, p. 22.
  29. Folha de Londrina, 12 de dezembro de 1999.
  30. Bôas, IAE, pp. 18-22.

Nota

  1. Boa parte dos atrasos se devem ao embargo tecnológico que o Brasil sofreu do G-7. Isso somente se encerrou em 1995 quando o país assinou o tratado de não-proliferação de mísseis de alta destruição (MITCR).[3] Outro motivo foi a falta de recursos financeiros para o projeto.[8]
  2. "Jornal do Brasil" disse que o foguete seria acionado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso a partir do Palácio do Planalto através de um sistema de transmissão por satélite.[13]
  3. A sequência do acidente é descrita de forma técnica em Palmerio 2017, pp. 136-139

Bibliografia

(Ordem cronológica)

  • Maria, Joaquim (8 de dezembro de 1984). «Com a subida do Sonda IV, o futuro está lançado». Manchete (1703). p. 119 
  • «Brasil constrói seu primeiro satélite genuíno». Diário do Pará. 7 (2478). 27 de maio de 1990. p. 5 
  • «Inpe deverá ter reforço orçamentário». O Fluminense. 116 (33669). 16 de junho de 1993. p. 7 
  • Bonalume Neto, Ricardo (21 de fevereiro de 1997). «Teste aprova foguete e satélite brasileiros». Folha de S. Paulo 
  • «Equipamentos para a base de Alcântara». Jornal do Commercio. 170 (221). 2 de julho de 1997. p. 10 
  • Cardoso, Beatriz (16 de agosto de 1997). «O Brasil entre as Potências». Manchete (2367). pp. 49–50 
  • «Foguete brasileiro colocará em órbita o satélite SCD2A». O Pioneiro. 49 (6780). Agosto de 1997. p. 19 
  • «Brasil prepara novo satélite». Jornal do Commercio. 171. 17 de outubro de 1997. p. 10 
  • «Brasil rumo ao espaço». Jornal do Brasil. 107 (197). 22 de outubro de 1997. p. 6 
  • «VLS deixa Brasil entre os 8 mais em conquistas espaciais». A Tribuna. 104 (211). 22 de outubro de 1997. p. 4 
  • «Foguete brasileiro já está na base». Jornal do Commercio. 171. 22 de outubro de 1997. p. 12 
  • «Lançamento do foguete VLS é suspenso». A Tribuna. 104 (216). 27 de outubro de 1997. p. 10 
  • Neto, Ricardo Bolanume (3 de novembro de 1997). «Foguete brasileiro fracassa, é destruído e cai no mar». Folha de São Paulo. Cópia arquivada em 30 de janeiro de 2004 
  • «Lançamento de foguete acaba em explosão». Jornal do Brasil. 107 (209). 3 de novembro de 1997. p. 4 
  • «Aeronáutica prevê lançamento de satélite neste domingo». Jornal do Commercio. 171. Novembro de 1997. p. 14 
  • «Fracasso do foguete estava previsto». O Pioneiro. 50 (6838). 6 de novembro de 1997. p. 14 
  • Lino, Geraldo Luís (6 de novembro de 1997). «O Brasil reumo à aventura de conquistar o espaço». Tribuna da Imprensa. 48 (14586). p. 4 
  • «Especialista apontou falha no foguete». Jornal do Commercio. 10 de novembro de 1997. p. 22 
  • Monteiro, Ricardo Rego (dezembro de 1997). «Brasil, o novo sócio do clube dos satélites». Jornal do Commercio. p. 21 
  • «Acidente adiou projeto em 97». Folha de S. Paulo. 11 de novembro de 1999 
  • Ottoboni, Júlio (12 de dezembro de 1999). «Inpe cancela programa de microssatélites, após fracasso com Saci-2». Folha de Londrina 
  • Berquó, Jolan Eduardo; Coelho, Elizabeth Cabral; Martinolli, João Bosco; Corrêa, Cleber Souza (fevereiro de 2004). Relatório da Investigação do Acidente ocorrido com o VLS-1 VO3, em 22 de agosto de 2003, em Alcântara, Maranhão (PDF). São José dos Campos: [s.n.] 118 páginas. Cópia arquivada (PDF) em 8 de novembro de 2013 
  • Costa, Fabio Wagner (2004). O Programa Espacial Brasileiro (PDF) (Monografia). Centro Universitário de Brasília. 60 páginas 
  • Bôas, Danton José Fortes Villas. «O Veículo Lançador de Satélites - VLS-1» (PDF). IAE. 24 páginas 
  • Palmerio, Ariovaldo Feliz (2017). Introdução à Tecnologia de Foguetes (PDF) 2 ed. São José dos Campos: SindCT. 304 páginas. ISBN 978-85-62042-05-8 

Ligação externa

  • Reportagem da Globo sobre o acidente
  • v
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Instituições
AEBDCTACNAE (extinto) • INPEAABGETEPE (extinto) • IAEIEAv
Centros de lançamentos
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